Um jovem líder dos povos da floresta

Ashoka Brasil
3 min readJul 14, 2021

Ednei Arapiun
Jovem Transformador pela Democracia

Ednei está usando um cocar azul, colares de contas, bermuda e chinelo. Ele também tem pinturas no corpo e está sentado em uma pedra. A paisagem é composta por um chão rochoso, um rio e um céu azul com algumas nuvens.
Foto: Walter Kumaruara

Eu sou Ednei Arapiun, coordenador do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns. Vivo na aldeia Cachoeira do Maró, no baixo Tapajós, na Terra Indígena Maró. Sou militante da luta dos povos da floresta desde os 14 anos de idade. Hoje, coordeno o trabalho de outros líderes indígenas, reunindo 19 territórios e 70 aldeias, de 13 diferentes etnias, espalhadas por uma ampla jurisdição intermunicipal, dos municípios de Belterra, Aveiro e Santarém, no estado do Pará.

A minha atuação é, principalmente, tentar buscar políticas públicas que possam dar melhorias para o meu território. No nosso território, enfrentamos problemas em relação à saúde nas aldeias e à proteção territorial. E também lutamos por uma educação diferenciada para nossos indígenas. Enfim, lutamos por políticas públicas para que esse território possa ser assistido pelos governos federal, estadual e municipal.

Queremos políticas para o indígena na aldeia e para que ele venha para cidade, para a faculdade. Eu mesmo faço faculdade, na Licenciatura Intercultural da UEPA, em módulos.

Como Conselho Indígena, a gente trabalha para conseguir cotas e, principalmente, políticas de ações afirmativas dentro das universidades. Para que o indígena venha para a cidade, saia da aldeia, para que ele possa ter essa experiência dentro da universidade e dentro da cidade. É muito difícil sair de uma realidade de dentro da aldeia e se encontrar com uma realidade totalmente diferente que é a cidade, com a tecnologia principalmente.

Dentro da universidade, a gente criou uma espécie de formação básica, que apresenta para os indígenas os ensinamentos mais formais. Tem acompanhamento de professores para os bilíngues, que são as pessoas que têm a língua materna e os que falam português já mais fluente. Também tem conteúdos de informática, como fazer projetos universitários, projetos de pesquisa. Tudo isso para que o indígena possa ter menos dificuldade dentro da universidade.

Queremos que o indígena possa se formar não só na área de educação, mas também área de saúde como agente de saúde, enfermeiro, técnico de enfermagem. E, principalmente, apoiar aqueles que ousam mais, que buscam ser advogados, agrônomos, para tentar defender o território. Já temos indígenas formados em Direito, uma indígena formada em Biologia. Todos tentam estudar para trazer benefícios de volta ao território.

Também queremos formações para os profissionais de saúde que não são indígenas, que são os brancos. Para que eles possam atender as aldeias dentro da realidade das aldeias, até mesmo respeitando os remédios mais tradicionais, as benzedeiras, os pajés. Essa é uma luta diária. E o problema do atendimento de saúde, da assistência básica para essas regiões, fica maior com a pandemia, mas também com as epidemias de algumas doenças que se repetem anualmente, como alguns tipos de virose.

Além de tudo isso, temos a questão de invasões territoriais. Os órgãos que fazem a vigilância dentro de nossos territórios estão bastante sucateados pelo governo federal atual. Então, por necessidade, criamos uma política em que os próprios indígenas fazem esse trabalho de vigilância dentro dos territórios. Esse é um autocontrole territorial que os indígenas fazem, montando vários grupos de vigilantes de suas respectivas áreas.

Eu imagino viver a minha vida, o resto da minha vida com um território demarcado. Um território que a gente possa preservar dizendo que é nosso. Preservar dos invasores que entram para destruir.

Porque o território para mim é alma, é a vida. Sem território, não existe aldeia, não existe cultura indígena. A gente não consegue caçar, não consegue pescar, não consegue tomar banho no rio.

Eu também imagino que, com algum diploma, eu possa voltar para minha aldeia e lá construir uma vida melhor, principalmente para meus futuros filhos, netos, bisnetos, assim como todos que já estão aqui.

Eu costumo dizer que eu não sou o futuro do país sendo um jovem, mas eu sou o presente e eu faço acontecer agora. O futuro é daqueles que virão e eu sou responsável por ele. Hoje, cada um é responsável por preservar um pouquinho para que seus filhos e netos possam conseguir ter uma vida que nem a gente tem ou então um pouco melhor. A gente dá a vida e dá o sangue para isso.

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